O "CHEFE" é o meu sogro. Alentejano dos quatro costados, não ganhou este epíteto pelos seus excelentes dotes na arte da culinária mas, pelo seu feitio autoritário e rezingão. Claro que pela frente ninguém ousa sequer pronunciar essa palavra. Acho que o único que o fez e conseguiu sobreviver fui eu. Mas isso deve ter sido por ele estar bem disposto e não querer ter uma filha viúva.
Há uns anitos, fui ajudá-lo a sulfatar a vinha que possui na zona de Palmela. Passámos pelo mercado de Setúbal e comprou umas sardinhitas que me deixaram curioso. Não eram especialmente gordas, embora estivéssemos na época delas, estas, muito pequenas, só mais tarde costumavam estar boas para grelhar. Quando chegou a hora do almoço fez uma fogueira com umas cepas velhas e todas retorcidas, deixou ganhar brasas e meteu-lhe a grelha por cima, apoiada em dois tijolos velhos e negros de muitas labaredas. Aí comecei a torcer o nariz. Pensei: "vai ser uma barrigada de fome". Estava bem enganado. O CHEFE salpicou os peixinhos, meteu-os em cima da grelha e apanhou um molho de coentros que ía partindo em pedaços e misturando dentro de uma malga, com as sardinhas e azeite. Foi tão bom que continuo a fazer esta"caldeirada" cada vez que compro sardinhas pequenitas.