Pela lua-cheia as marés são grandes e, permitem, sem grandes sobressaltos (excepto quando o mar está bravo), a apanha destes bivalves. Especialmente durante os dois dias que antecedem a lua, e os dois dias posteriores. Vamos de madrugada, quando a maré ainda desce. Saca de serapilheira a tiracolo e arrilhada em riste, a "cavar" na rocha, arrancando desta, os negros e preciosos bivalves que tenaz e teimosamente a ela se fixam. Nesta zona, os mexilhões do Zavial, são para mim, os melhores, sem serem muito grandes, são contudo, suculentos e saborosíssimos. Após a apanha, são lavados da areia ali mesmo, numa das muitas poças de água que permanecem nas rochas durante a baixa-mar. Chegados a casa há que lavá-los muito bem, raspando a casca com uma faca e uma escova de arame afim de retirar todas as impurezas, cortando no final uns filamentos denominados:"bisso", vulgarmente conhecidos como "barbas"e através dos quais estes se fixam às rochas. Separe alguns dos mexilhões com melhor aspecto. Ponha ao lume, um tacho com um pouco de água e os restantes mexilhões. Após a abertura destes, apague o lume e deixe arrefecer o marisco, retire e reserve o miolo deitando fora as cascas. Reserve também a água resultante da abertura dos bicharocos.
Agora é o costume: Um refogado de cebola e alho picados, em azeite. O tomate picado, o arroz bem lavado e escorrido, um golpe de vinho branco, a água que reservou e mais alguma (a necessária para que o arroz fique malandrinho). Mantenha a água ao lume para ir acrescentando à medida que for necessário. Tempere com pimenta e sal. Muito cuidado com este, a água libertada pelos mexilhões é bastante salgada. Quando o arroz estiver quase cozido, junte os mexilhões com a casca e após a abertura destes, junte também o miolo que reservou. Piripiri, coentros picados e umas gotas de molho Inglês dar-lhe-ão um toque especial. E rápido para a mesa, que este arroz só é malandrinho agora, se o deixam esperar fica seco e espapaçado.